Eu sou filha, neta e nora de umbantistas. A mãe do meu marido era mãe de santo e minha avó e minha mãe sempre frequentaram Centro Espírita. Enquanto eu não me "mandava", acompanhava minha mãe nas sessões e enquanto ela estava desenvolvendo no terreiro, eu me divertia a valer, brincando no pátio.
Este mundo nunca me interessou. Assim que tive idade suficiente para ficar sozinha em casa, deixei de acompanhar minha mãe no Centro, mas vez ou outra ela me "obrigava" a tomar um passe ou uns banhos para tirar o mal olhado.
Atualmente o mais perto que chego do Centro que ela frequenta é na porta, de dentro do carro, enquanto espero a sessão terminar, para levá-la para casa.
Como eu já disse outras vezes, eu não tenho religião e nem nos momentos difícies, costumo apelar para banhos, rezas e orações, ao contrário da minha mãe. Hoje vou escrever basicamente sobre ela e suas crenças.
Apesar de a trancos e barrancos, continuo tocando a Casa de Lanches, que deixou de ser um sonho e se transformou num pesadelo. Os clientes debandaram e é aí que entra a minha mãe e suas crenças. Para ela, o sumiço dos clientes se deve a um único fato: inveja. Nem eu consigo negar este fato, o meio que eu vivo são de pessoas medíocres.
E por conta desta certeza, enquanto eu me desinteressei pelos negócios e procuro novos caminhos, ela se nega a aceitar a derrota e procura no espiritismo a salvação da lauvora. Semana passada ela comprou vários ítens e levou para a antiga mãe de santo da minha falecida avó. Hoje ela me disse que os produtos eram para oferecer ao meu anjo da guarda.
Minha mãe é do tipo que alterna umbanda com catolicismo e com a mesma frequencia que desenvolve num terreiro, ouve Padre Marcelo Rossi e frequenta a missa, além de já ter lido o livro Ágape de trás para frente e vice-versa. A mulher tem mais fé no dedinho mindinho que eu no corpo todo.
Enquanto ela se agarra na fé que os inimigos não nos derrotaram, eu me agarro em novas oportunidades que possam surgir e esta virando o duelo do século: Espiritualidade X pragmatismo.
Só que tanta praticidade foi posta em cheque nesses últimos dias. Depois do "trabalho espíritual" e da reza incessante, não é que eu, cética de carteirinha, estou me sentindo mais animada? E clientes que estavam sumidos a tempos, estão reaparecendo?
Confesso que não sou de pedir nada a Deus. Não por não acreditar, só não me sinto bem em pedir. Não sou boa em pedir as coisas, nem mesmo para Deus.
E esse lance de trabalho espíritual, será que funciona? Ou será tudo merá concidência... Não sei a resposta, mas não há como negar as mudanças.